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Um sistema infalível para ganhar na roleta

Introdução

Um sistema infalível para ganhar na roleta

Zero, Verde!

A aposta mais impopular de toda a mesa, pensou o crupiê consigo mesmo. Ele derrubou a pilha de fichas, todas perdedoras, do feltro e começou o movimento repetitivo de empilhá-las. A velha e enérgica oriental à direita da mesa imediatamente começou a reempilhar as fichas em seu padrão habitual. Ela fumava um cigarro grande demais para ela, a fumaça formando uma névoa leitosa que se estendia visualmente em sua direção.

O único outro jogador estava sentado na extremidade oposta do feltro. Seu padrão era uma distribuição previsível de caos. Ele jogava suas fichas aleatoriamente assim que a bola começava sua inexorável rotação, resultando em aleatoriedade individual. Era um jovem careca, perto dos trinta, com uma voz aguda e anasalada. Uma pessoa aparentemente insegura que já havia sido repreendida muitas vezes pela senhora idosa por suas apostas ruins. Ele provavelmente teria reclamado do cigarro dela se os intensificadores de oxigênio não tivessem entrado em ação imediatamente, engolindo qualquer fumaça que chegasse até eles, deixando tanto o jogador quanto o crupiê em um ambiente livre de fumaça, mesmo enquanto a mulher oriental, a poucos centímetros de ambos, cambaleava em seu caminho canceroso, desafiando as probabilidades de desenvolver linfoma em sua idade — mas não as de perder na roleta.

Ainda assim, pensou o crupiê, pelo menos esses jogadores tiveram o bom senso de jogar na roleta do Duplo Zero, mesmo com seu mínimo mais alto de US$ 2.500 por mão. A maioria dos jogadores preferia as mesas com mínimo baixo de US$ 500 e layout de Quádruplo Zero. O cassino adorava esses trouxas! Claro, o Quádruplo Zero não era de todo ruim! Havia a regra do "en-prison" naquela mesa. Se um zero verde, duplo zero, triplo zero ou quádruplo zero aparecesse, todas as apostas de valor igual eram mantidas para a próxima rodada. Se algum verde se repetisse, a aposta dobrava, mas ainda era mantida "en-prison". Se algum verde aparecesse uma terceira vez, a aposta era triplicada, mas mantida "en-prison" mais uma vez. A quarta aposta era o fator decisivo. Se a bola caísse no verde pela quarta vez consecutiva, a aposta era quadruplicada, devolvendo ao jogador uma quantia considerável.

É claro que, embora as quatro apostas seguidas acontecessem com frequência suficiente para um crupiê comentar, ainda eram raras o bastante para tornar a mesa um verdadeiro poço sem fundo para o cassino. As probabilidades de ganhar 35 para 1 jogando em uma mesa com quarenta números tornavam a alta comissão difícil demais de superar. Não, as mesas com duplo zero eram as apostas mais seguras na roleta. Houve até mesmo uma mesa de roleta com um único zero! O crupiê tinha visto uma no museu e sabia que já existira uma mesa sem zero, mas essas eram dos primórdios do jogo.

Pelo canto do olho, o crupiê notou o homem discreto de nariz adunco parado na sombra de uma coluna, observando e registrando o resultado de cada rodada. Ele estava ali havia quase quatro horas, tinha certeza. Não era algo totalmente incomum. Às vezes, era sinal de que a pessoa havia falido, mas ainda tinha horas livres, então observava com inveja os outros jogadores perderem dinheiro, fantasiando, de alguma forma, que todos, menos ela, estavam ganhando.

Nesse caso, o homem era obviamente um daqueles tristes indivíduos que acreditavam ser possível criar um sistema vencedor para a Roleta — um jogo que vem drenando o dinheiro dos jogadores sem falhar há doze séculos. O homem tentou registrar sorrateiramente o resultado de cada giro na mesa em seu Gravador de Memória. Embora tentasse inserir os números discretamente, como se temesse ser notado, ainda assim era lamentavelmente óbvio. O Gravador de Memória era grande demais para passar despercebido. Ele gravava os números diretamente no cérebro do homem para posterior memorização, o que, se cada giro não fosse um evento independente, tornaria o método ilegal em um cassino. Mas, como saber os giros anteriores não aumentava as chances de ganhar, o cassino permitia seu uso, zombando da Falácia do Jogador que as pessoas ainda acreditavam.

Os Gravadores de Memória foram inicialmente desenvolvidos para os departamentos militares e de espionagem do governo. Rapidamente foram utilizados por estudantes universitários para colar em provas, o que lhes conferiu uma má reputação. Mas os Gravadores de Memória passaram a ser usados para muitos fins legítimos. Em algumas áreas, como a médica, eram absolutamente indispensáveis. Ninguém contrataria um cirurgião que não usasse Gravadores de Memória em sua prática. Eles permitiam a retenção de memória com perfeição. O cirurgião, advogado ou qualquer outro técnico de alto nível que não usasse um seria considerado uma relíquia do século XXI, quando as pessoas só tinham raios-X ou computadores para fazer o trabalho por elas. E Deus nos livre se o político que errasse uma fala por não usar um Gravador de Memória fosse vaiado e xingado com gritos de desprezo como "Bush, Bush, típico do Bush".

Ainda assim, a maioria das pessoas tentou esconder o uso dos dispositivos.Provavelmente, isso se devia a um mito de que os gravadores de memória poderiam melhorar o desempenho no Blackjack. Mas os embaralhadores holográficos eliminavam qualquer benefício do gravador de memória, transformando cada partida em um evento completamente aleatório e independente. Não, a segurança do cassino debochava do uso deles e das pessoas que os utilizavam.

Naquela noite, porém, a segurança provavelmente nem estava prestando muita atenção ao homem de nariz adunco, já que um roubo seguido de assassinato havia ocorrido no início da tarde em um dos elevadores do hotel. Embora o jogo continuasse normalmente, uma seção da ala havia sido isolada e uma hora se passou antes que chegasse a notícia de que o suspeito havia sido detido, trazendo um suspiro de alívio em meio aos palavrões dos jogadores perdedores.

O crupiê bocejou quando seu turno chegou ao fim. O homem de nariz adunco ainda estava anotando os dados quando o crupiê notou os quatro funcionários robustos do cassino ao seu redor, embora o chefe de segurança, Dexter Masterton, estivesse visivelmente ausente. A curiosidade aguçou o crupiê. O homem de nariz adunco parecia nervoso, relutante em acompanhar o grupo heterogêneo que insistia em escoltá-lo para longe.

Hum, pensou o crupiê. Ele não tinha feito nada que lhe parecesse digno de ser colocado nos bastidores. Mesmo assim, nunca se sabe. Talvez ele estivesse ligado ao assassinato anterior? Seria um ótimo álibi ficar a noite toda no cassino, sendo flagrado pelas câmeras, mas, de alguma forma, o crupiê não achava que ele teria ficado por ali depois de um incidente desses. Não, deve ser outra coisa, concluiu. O crupiê girou a roleta pela última vez para a plateia cativa em sua mesa. A mulher oriental ganhou — no duplo zero. Hum, algumas pessoas aprendem com os erros.


O homem de nariz adunco enxugou o suor da testa com um lenço robótico. O papel, ao se dissolver, eliminava qualquer resíduo ambiental, mas deixava um odor pungente até dissipar completamente. Ele olhou para o homem corpulento sentado em frente à porta da sala para onde fora levado. O sujeito parecia um ex-presidiário de terno. Ou um ex-lutador profissional de terno.

O segurança/ex-presidiário/lutador o encarou com um olhar vago. "O chefe de segurança Masterton se juntará a nós em instantes. Entendi que ele está esperando a polícia chegar. Posso lhe oferecer um cafezinho?"

— Não, obrigado — murmurou ele. Como poderia sugerir um café com tanta calma quando a polícia estava a caminho? Gotas de suor voltaram a se formar no rosto do homem de nariz adunco.

"Então, qual é o seu nome?", perguntou o guarda.

Ele está mesmo sendo amigável? "Hum, Aaron Tommy Baker", respondeu o homem de nariz adunco. Mas esse não era seu nome verdadeiro. Seu primeiro nome não era Aaron. Seu primeiro nome era Tommy, sem nome do meio. Alguma voz interior o havia inspirado a mentir. O guarda lhe deu um sorriso doce e açucarado que fez um arrepio percorrer a espinha de Aaron. Ele precisava sair dali. Não achava que se meteria em grandes problemas por causa do Gravador de Memórias; tudo o que lera indicava que eram aceitáveis em cassinos, mas sua maior preocupação era o contrabando que encontrariam se o revistassem minuciosamente. Ele precisava escapar por esse motivo. Caso contrário, estaria em sérios apuros com a lei.

Ele formulou um plano.

"Posso usar o banheiro, por favor?"

"Claro", indicou seu captor com um aceno de cabeça.

'Aaron' Tommy Baker levantou-se e entrou no banheiro que ficava ao lado do escritório. Era pequeno, com uma única janela aberta que deixava entrar uma brisa fria e a chuva que caía torrencialmente do céu noturno, batendo com força no parapeito. As janelas tinham grades de segurança e a única saída seria pela porta que dava para o escritório. A segurança não temia que 'Aaron' Tommy Baker tentasse uma fuga repentina. Tommy olhou pela janela para a noite fria e escura.

Bem, vamos lá, pensou ele. Acionou o compartimento secreto do seu relógio de pulso, respirou fundo e ativou o dispositivo de contrabando pré-programado que estava escondido lá dentro. 'Aaron' Tommy Baker estremeceu com a luz forte e cortante do sol do início da tarde que lhe atingiu os olhos.

Ao sair do banheiro, ele olhou em volta, nervoso. O cômodo estava deserto, o lugar onde o ex-presidiário/lutador de luta livre estivera momentos antes, agora vazio. Aparentemente, a sala não era ocupada quando ninguém estava sendo interrogado ou detido para interrogatório.

'Aaron' Tommy Baker saiu do cassino silenciosamente e, esperava ele, sem chamar atenção, e foi para casa.


"Você o quê???" berrou Sammy.

"Eu tive uma viagem no tempo", repetiu Tommy Baker, sentado à mesa da cozinha em frente ao filho. Sammy, agora com vinte anos, olhou para o pai com desconfiança. Sam já era um indivíduo experiente e bem-sucedido.Aos dezoito anos, alistou-se no exército, arriscando a vida nas guerras espaciais que assolavam o planeta, sendo encarregado de pilotar armamento pesado e cargueiros estelares de primeira classe. Herói de guerra condecorado, tendo matado muitos terroristas alienígenas em busca de liberdade, justiça e dos ideais de seu planeta, voltou para casa desempregado e ganhou algum dinheiro rápido como ator pornô em alguns cinemas de filmes adultos bem conhecidos.

Apesar de tudo, Sam ainda esperava pacientemente pelo seu vigésimo primeiro aniversário, quando a lei finalmente lhe permitiria tomar decisões realmente importantes sobre sua vida, como apostar suas fichas no preto ou no vermelho na roleta. Ele também poderia alugar alguns daqueles cubículos pornográficos em que atuou pela primeira vez — a lei era bem clara: ele precisava ter mais de dezoito anos para atuar em filmes pornográficos, mas mais de vinte e um para assisti-los.

"Você fez uma viagem no tempo? Mas isso é ilegal. Onde você pegou esse dispositivo?"

"Mercado negro, claro. Dá uma olhada", disse Tommy, levantando a manga para revelar o relógio que escondia o dispositivo.

Sammy olhou para aquilo com curiosidade tensa. "Então, você não usa drogas alucinógenas porque é ilegal, pai, mas usa tecnologia estritamente proibida como os Viajantes do Tempo?" Tommy deu de ombros, envergonhado. "Você pode pegar de quinze a vinte dias usando essa tecnologia. Eu só consigo cinco dias no máximo com meus cogumelos."

"Veja bem, a proibição existe apenas para impedir que as pessoas voltem no tempo e salvem Lincoln, ou Obama, ou Kennedy..."

"Qual Kennedy?"

"Ou pior, Hitler. Enquanto o passado não for mudado, não haverá efeitos colaterais."

"Isso não é verdade, pai. Deixando de lado os impactos na linha do tempo, há os efeitos na saúde física. Cada vez que você sofre uma distorção temporal, o tempo perdido é descontado da sua expectativa de vida. É apenas uma fração, claro, mas, assim como fumar, isso vai te assombrar mais tarde."

"Sim, bem, é por isso que terminei com isso. Foi só desta vez."

"Até você ficar viciado e precisar usar a viagem no tempo para escapar de todas as situações ruins da vida."

"Não vou me viciar. Veja bem, é só um pequeno salto, um dia para o futuro eu dei, e depois voltei."

"Entendi", disse Sammy. "Então, você avançou para o dia seguinte, visitou o cassino e usou um gravador de memória para registrar todas as apostas vencedoras durante um período de quatro horas de jogo, depois voltou no tempo para poder visitar o cassino, retornar amanhã e embolsar os ganhos."

"Você entendeu. Nós vamos ficar ricos. Vou apostar alto. Nós vamos ser bilionários."

"Se você não for pego."

"Como? Agora que sei os números vencedores, é só ir lá e jogar. Já internalizei os memes. Sei exatamente o que vai acontecer em cada giro."

Sam ponderou sobre isso por um momento. "Não sei. O que te faz pensar que o futuro está definido? Quer dizer, não é possível mudá-lo simplesmente sentando e jogando? Você interromperia o fluxo das fichas, os pagamentos, de modo que as rodadas seriam feitas em momentos diferentes e com velocidades diferentes pelo crupiê. Você obteria resultados diferentes amanhã."

"Eu sei que o futuro não está definido. Isso é do conhecimento geral..."

"Não, isso é uma teoria comum. Ninguém sabe ao certo. Ninguém ainda conseguiu provar que o futuro foi alterado porque, quando alguém afirma isso, ninguém mais vivenciou o que supostamente aconteceu. Então, quem sabe se o futuro está predestinado ou não?"

"Não está definido! Pode mudar! É por isso que está no futuro e é por isso que meu plano vai funcionar. Vou para a mesa, sabendo as apostas vencedoras, e vou mudar o futuro colocando dinheiro onde não coloquei antes. Mas sempre vou garantir que meu dinheiro esteja na mesa antes que os outros jogadores terminem, para que sejam eles que iniciem a rodada do crupiê. É assim que sei que as rodadas não vão mudar."

"Não sei. Ainda me parece que não é à prova de falhas."

"Bem, vou testar com algumas apostas experimentais. Se eu ganhar, saberei."

"Certo, acho que sim. Imagino que, neste ponto, não custa testar a teoria com algumas rodadas. Então, você não se via jogando na mesa?"

"Não, claro que não. Eu ainda não tinha mudado o futuro. Eu estava apenas analisando os números. Mas vai haver bastante espaço na mesa para eu me sentar. Tem uma senhora oriental idosa em uma ponta e outro cara na outra. Vou sentar entre os dois e faturar enquanto eles perdem tudo — de novo."

Tommy soltou uma gargalhada. Sammy fez uma careta. "Ei, estou curioso. Vire-se e veja se você se pega anotando os números enquanto joga."

"Não, eu realmente não quero fazer isso. Não quero me ver no canto, analisando nervosamente os resultados dos giros. Vou simplesmente sentar e jogar como se não houvesse ninguém atrás de mim.""

"Ei, como estará o tempo amanhã?"

"Chuva o dia todo."

"Droga, eu tenho um jogo para ir. Acho que vai ser cancelado por causa do tempo. Alguma outra notícia importante amanhã?"

"Como eu ia saber? Eu não estava prestando atenção. Só fui anotar os números e depois voltei."

"Entendi. Bom, boa sorte, parece um plano melhor do que os outros sistemas que você usou ao longo dos anos. Melhor do que aquele Martingale, com certeza."

"Não, desta vez não é sorte. Desta vez eu ganho. Desta vez eu tenho o sistema infalível para vencer na roleta!"


Tommy ajeitou a roupa em frente ao espelho do cassino do hotel. Ele havia alugado um quarto no décimo terceiro andar usando os nomes Tommy Baker e Aaron Baker. Se e quando as câmeras o flagrassem jogando na mesa e gravando as rodadas atrás dele, ele apontaria que aquele era seu irmão gêmeo, Aaron.

Foi uma boa estratégia. Tommy ergueu as imagens das rodadas que agora estavam gravadas em sua mente, imagens que ninguém além dele podia ver. O gravador de memória dentro de seu relógio de pulso foi removido e deixado em casa, caso alguém questionasse sua sequência de vitórias.

Os gravadores de memória eram bastante simples de usar. Até mesmo uma criança conseguia operar um e, de fato, alguns distritos escolares distribuíam gravadores como parte do pacote de livros para ajudar as crianças em idade escolar a acelerar o processo de aprendizagem. Alguns tradicionalistas argumentavam que os jovens não estavam aprendendo dessa maneira, mas na verdade era apenas uma forma diferente de aprendizado. Ninguém se importava muito.

O Gravador de Memória, na verdade, gravava as informações em um disco de segurança. Esse disco permitia reinserir ou apagar informações. As informações podiam ser inseridas por meio de um teclado, como ele havia feito, ou por meio de digitalização, download ou equipamento fotográfico. Os técnicos discutiam que a próxima geração de Gravadores permitiria gravar filmes inteiros na memória, para que se pudesse assistir ao último lançamento, sem cortes e sem interrupções, na mente do usuário. Isso era especialmente atraente para cineastas com versões mais adultas e violentas de seus filmes, já que o indivíduo poderia decidir o que era bom para si, e ninguém mais veria as imagens. Teoricamente, seria possível assistir a filmes pornográficos (esperançosamente não aqueles estrelados por seu filho) durante uma viagem de trem lotada para casa. Os estúdios eram os únicos que reclamavam da violação de direitos autorais e da facilidade de cópias piratas e gravações digitais para distribuição ilegal. Mas isso ia acontecer. Era inevitável.

Assim que as informações eram finalizadas no Safedisk, elas eram transferidas para o cérebro, onde podiam ser acessadas com mais facilidade do que as memórias, de forma quase idêntica. O gravador registrava a data e a hora de cada entrada, de modo que Tommy sabia exatamente quando os resultados de cada rodada ocorreram (ou pelo menos quando ele os havia inserido, logo em seguida).

Bem, ele estava pronto. Pegou seu maço de dinheiro da aposta, enfiou no bolso da calça e saiu da sala, trancando-a atrás de si.

Ele entrou no elevador, que já estava ocupado por um homem desgrenhado e maltrapilho, com as roupas molhadas pela chuva lá fora. Estranho, pensou Tommy, que ele estivesse descendo se acabara de chegar de fora. Talvez tivesse perdido alguma coisa lá embaixo?

O homem o encarou nervosamente, quase envergonhado, mas não completamente. "Vai para as mesas?", perguntou educadamente.

"É isso aí", respondeu Tommy. "Roleta é o meu jogo! Não gosto de caça-níqueis. Nem de nenhum outro jogo de mesa, aliás. Hoje à noite é a minha noite de ganhar muito na roleta. Qual é o seu jogo?"

Tommy se virou para encará-lo. "Assalto!" O homem apontou uma espingarda diretamente para ele. "Entregue todo o dinheiro."

Tommy fez uma careta. Ele ia ganhar na sua grande noite no cassino e estava sendo assaltado? Era cômico. "A segurança aqui é péssima. Primeiro teve um assassinato durante um assalto ontem e agora..."

Um momento palpável de realidade crescente envolveu Tommy. "Não foi ontem", murmurou ele num sussurro inaudível.

Um milhão de pensamentos inundavam sua cabeça, incluindo centenas de resultados possíveis numa pequena roda da sorte chamada roleta, e Tommy dava um salto para a frente, ciente de seu assassinato com pleno conhecimento prévio.

Mude isso!!!

E uma faixa rosa de luz intensa e penetrante atingiu seus olhos!


O chefe de segurança do cassino, Dexter Masterton, desabou em sua cadeira atrás das fileiras de câmeras que acompanhavam os movimentos de todos os presentes no cassino. Seu assistente júnior, Telly, estava vidrado nas telas, como fizera a noite toda. Telly se virou para seu superior e sorriu com um semblante compreensivo. "Noite longa?"

Dexter assentiu com a cabeça. "A cena do crime foi limpa e parece que tudo voltou ao normal. A única peça que falta é o suposto irmão da vítima. Ele estava registrado no cassino, mas não temos informações de contato nem como encontrá-lo. Ele não estava no quarto dele."É muito triste quando um de nossos clientes, que respeita a lei, é assassinado por motivos tão banais."

"Ele tentou resistir?"

"Sim, foi por isso que ele foi morto. A menos que você saiba que vai ser assassinado, é melhor entregar o dinheiro. Sua vida não vale a pena. Então, aconteceu alguma coisa interessante enquanto eu estava lidando com toda essa confusão?"

"Nada. Bastante tranquilo."

"Alguém está agindo de forma suspeita?"

"Não, nada fora do comum. Tem um cara usando um gravador de memória para acompanhar os giros da roleta, outro adepto de sistemas."

"Deixa ele tentar!" Dexter olhou para a tela de vídeo que delineava claramente o homem e seu nariz adunco com o Gravador de Memória. "Filho da puta! Ele se parece com a vítima do assassinato. Esse deve ser o irmão que estamos procurando. A semelhança é impressionante!"

"Gêmeos idênticos?"

"Tem que ser."

"Então, de nada adianta saber quando um irmão está ferido ou morto. Esse cara parece não se importar com nada além de registrar seus números. Ele está no mesmo lugar há quase quatro horas."

"Sim, obviamente ele não sabe. Mandem uma equipe de segurança para levá-lo até a sala dos fundos. Eu vou lá e conto para ele com delicadeza. E chamem os detetives de volta. Tenho certeza de que eles vão querer interrogá-lo."

"Entendi. Fico pensando se o irmão dele estava pensando nele quando ele foi assassinado. Quer dizer, eles eram gêmeos idênticos e tudo mais."

"Posso lhe dizer quais foram seus últimos pensamentos."

"Ah, sim. E aí?"

"A polícia fez uma tomografia cerebral no local. É um procedimento padrão em casos de homicídio para verificar se a vítima usou um gravador de memória no último mês. Se sim, eles deixam uma lembrança psíquica no momento da morte, o que pode auxiliar na investigação do homicídio."

"Entendo. Então, quais foram seus últimos pensamentos?", perguntou Telly.

Dexter parecia perplexo. "O futuro JÁ está definido. O futuro JÁ está definido." Esses foram seus dois últimos pensamentos, repetidos duas vezes. Estranho pensar isso num momento como esse.

Telly sorriu. "Bem, vamos torcer para que o futuro não esteja realmente definido. Algum Zé Ninguém vai pegar um TimeSlipper um dia desses e nos tirar do mercado."

Ambos riram da ideia, por mais ridícula que parecesse. "A segurança o pegou", informou Telly.

"Vou esperar até os detetives chegarem. Não quero interferir na investigação deles. Ah, olha só, aquela oriental ganhou um prêmio enorme." Dexter apontou para a tela.

"Ah, sim", exclamou Telly. "Ela ganhou uma bolada. E no Double Zero também. Parece que ela mudou de aposta. Hum, algumas pessoas aprendem com a experiência."


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